Benefícios do chá verde sobrea hipertensão arterial, danocardiovascular e disfunção endotelial
Lívia P. Nogueira1
Márcia R.S.G Torres2
Antonio F. Sanjuliani3
Márcia R.S.G Torres2
Antonio F. Sanjuliani3
1. Nutricionista - Mestre e Doutoranda em Fisiopatologia Clínica e Experimental. CLINEX/UERJ.
2. Nutricionista - Mestrado e Doutorado em Fisiopatologia Clínica e Experimental. CLINEX/UERJ.
3. Professor Adjunto e Coordenador da Disciplina de Fisiopatologia Clínica e Experimental. CLINEX/UERJ.
2. Nutricionista - Mestrado e Doutorado em Fisiopatologia Clínica e Experimental. CLINEX/UERJ.
3. Professor Adjunto e Coordenador da Disciplina de Fisiopatologia Clínica e Experimental. CLINEX/UERJ.
Correspondência:
Rua Aroazes 870, bl 2 /apto 508
Rio de Janeiro - RJ. CEP: 22775-060
Telefones (21) 9714-5262
E-mail: liviapnogueira@gmail.com
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Resumo
O chá verde, produzido a partir das folhas da planta Camellia sinensis, é uma excelente fonte de flavonoides, sendo predominantes as catequinas. Os benefícios atribuídos ao chá verde devem-se à presença desses flavonoides em sua composição. O consumo de chá verde tem sido inversamente associado ao desenvolvimento e progressão de doenças cardiovascular. Existem evidências de que os flavonoides presentes no chá verde conferem proteção contra doenças cardiovasculares, principalmente pelo seu efeito antioxidante e modulador da função endotelial. O crescente interesse em seus benefícios levou à inclusão do chá verde no grupo de bebidas com propriedades funcionais.
Descritores: Chá verde; Flavonoides; Pressão arterial, Endotélio.
Abstract
Green tea, made from the leaves of Camellia sinensis plant, is an excellent source of flavonoids, catechins are predominant. The benefits attributed to green tea are due to the presence of these flavonoids in its composition. Consumption of green tea has been inversely associated with the development and progression of cardiovascular disease. There is evidence that flavonoids in green tea provide protection against cardiovascular disease, mainly by its effect on oxidative stress and endothelial function. The growing interest in its benefits led to the inclusion of green tea in the group of beverages with functional properties.
Keywords: Green tea, Flavonoids, Blood pressure, Endothelium.
O chá verde, produzido a partir das folhas da planta Camellia sinensis, é uma excelente fonte de flavonoides, sendo predominantes as catequinas. Os benefícios atribuídos ao chá verde devem-se à presença desses flavonoides em sua composição. O consumo de chá verde tem sido inversamente associado ao desenvolvimento e progressão de doenças cardiovascular. Existem evidências de que os flavonoides presentes no chá verde conferem proteção contra doenças cardiovasculares, principalmente pelo seu efeito antioxidante e modulador da função endotelial. O crescente interesse em seus benefícios levou à inclusão do chá verde no grupo de bebidas com propriedades funcionais.
Descritores: Chá verde; Flavonoides; Pressão arterial, Endotélio.
Abstract
Green tea, made from the leaves of Camellia sinensis plant, is an excellent source of flavonoids, catechins are predominant. The benefits attributed to green tea are due to the presence of these flavonoids in its composition. Consumption of green tea has been inversely associated with the development and progression of cardiovascular disease. There is evidence that flavonoids in green tea provide protection against cardiovascular disease, mainly by its effect on oxidative stress and endothelial function. The growing interest in its benefits led to the inclusion of green tea in the group of beverages with functional properties.
Keywords: Green tea, Flavonoids, Blood pressure, Endothelium.
INTRODUÇÃO
Desde a antiguidade, as plantas são utilizadas como produtos terapêuticos. O chá, por infusão, é a forma mais popular utilizada dos diferentes produtos de origem vegetal, sendo rico em compostos biologicamente ativos que contribuem para a prevenção e o tratamento de diversas doenças1.
O chá verde é produzido a partir das folhas, com baixo grau de fermentação, da planta Camellia sinensis. Nos últimos anos, este chá ganhou considerável atenção, pois seu consumo tem sido associado à redução da morbidade e da mortalidade cardiovascular2-4. No Ohsaki study, 40.530 japoneses foram acompanhados prospectivamente durante 11 anos, os indivíduos que consumiam 5 ou mais xícaras de chá verde/ dia em comparação com os que consumiam menos de 1 xícara/dia apresentaram um risco 16% menor de mortalidade por todas as causas e 26% menor de mortalidade cardiovascular5.
Os benefícios do chá verde são atribuídos à presença de flavonoides, em sua composição. Os flavonoides são compostos polifenólicos que apresentam, dentre outras propriedades, efeito antioxidante e anti-inflamatório4, podendo ser encontrados em frutas e verduras. O chá verde é uma excelente fonte de flavonoides, principalmente as catequinas2. No chá verde, as catequinas compreendem 80-90% do total de flavonóides, com a epigalocatequina galato (EGCG), sendo a mais abundante (48-55%), seguida por outras catequinas: epigalocatequina (9-12%), epicatequina galato (9-12%), e epicatequina (5-7%). Uma xícara de chá verde contém, aproximadamente, 90mcg de EGCG. Além das catequinas, a composição química do chá verde também inclui proteínas (15%), aminoácidos (4%), fibras (26%), outros carboidratos (7%), lipídios (7%), pigmentos (2%) e minerais (5%)4.
Diante do exposto, torna-se necessário o melhor conhecimento dos possíveis benefícios do chá verde, considerando seus efeitos antioxidantes e suas ações protetoras. Portanto, o presente artigo tem como objetivo descrever os efeitos cardioprotetores do chá verde abordados na literatura.
Chá verde como um alimento funcional
Alimentos funcionais são aqueles que, além das qualidades nutricionais, contêm substâncias que ajudam na diminuição dos riscos de algumas doenças crônicas, por isso são considerados promotores de saúde, devido a seus componentes ativos, podendo influenciar na qualidade e expectativa de vida das pessoas6.
Diversos estudos epidemiológicos sugerem que os potenciais benefícios desses alimentos seriam na redução do risco de desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis, tais como o câncer, doenças cardiovasculares, distúrbios metabólicos, doenças neurodegenerativas e enfermidades inflamatórias. Na área da pesquisa com alimentos funcionais, a planta Camellia sinensis tem sido amplamente investigada devido ao seu conteúdo específico de "avonoides, que lhe confere inúmeras propriedades terapêuticas7.
Com isso, de acordo com os compostos bioativos do chá verde e a sua potencial capacidade de promover benefícios à saúde, diversos estudos demonstram que o mesmo deve ser considerado um alimento funcional.
Propriedades antioxidantes dos flavonóides do chá verde
Alguns estudos demonstraram que o consumo de chá verde é capaz de reduzir a peroxidação lipídica, a geração de radicais livres, a oxidação da lipoproteína de baixa densidade (LDL) e o desenvolvimento do estresse oxidativo4,7-10.
Basu e cols. (2010)10 avaliaram indivíduos obesos com síndrome metabólica e observaram que o consumo de chá verde (4 xícaras/ dia) durante 8 semanas foi capaz de reduzir significativamente as concentrações séricas de malondialdeído (MDA) e de hidroxinonenals (HNE) em comparação com controles. Reduções significativas nos níveis séricos do MDA e do 4-HNE, além de redução do estresse oxidativo nos eritrócitos foram observadas após o consumo de 1 litro de chá verde durante 3 meses8. O consumo do extrato de chá verde por mulheres saudáveis durante 5 semanas se associou à redução significativa de 37,4% na concentração da LDL oxidada9.
Os polifenóis podem atuar como antioxidantes através de uma série de mecanismos potenciais: neutralizam espécies reativas do oxigênio (ROS); quelam metais de transição; poupam vitamina E e carotenoides na partícula de LDL, aumentando assim seu poder antioxidante; inibem enzimas "pró-oxidantes" e aumentam a atividade de enzimas antioxidantes, como a paraoxonase8,11.
As propriedades antioxidantes do chá verde podem reduzir a sensibilidade da LDL à oxidação, reduzindo o risco de doença aterosclerótica8,11. Em adição às ações diretas sobre o endotélio, os flavonoides do chá verde potencialmente reduzem o desenvolvimento de aterosclerose através das suas ações indiretas como substâncias antioxidantes12. Quando as partículas de LDL são oxidadas, elas podem causar injúrias às paredes das artérias, atraindo células espumosas e desencadeando outras respostas imunológicas, que conduzem à formação de placas de ateroma, fato que desencadeia o processo aterosclerótico12.
Existem outros nutrientes encontrados no chá verde com propriedades antioxidantes, além dos polifenóis, por exemplo: ácido ascórbico, tocoferóis, carotenoides e alguns minerais com ação antioxidante3.
Efeitos do chá verde sobre a pressão arterial
Os efeitos do consumo de chá verde sobre a pressão arterial ainda não são completamente conhecidos. Estudos observacionais que avaliaram a associação entre consumo de chá verde e pressão arterial produziram resultados conflitantes. No estudo de Yang e cols. (2004)13, o consumo de chá verde se associou a níveis mais baixos de pressão arterial, enquanto no estudo realizado por Wakabayashi e cols. (1998)14 não foi relatada nenhuma associação. Em uma meta- -análise de estudos incluindo chá verde e chá preto, o consumo de chá não se associou com redução da pressão arterial15. As evidências observacionais mais robustas de um possível efeito anti-hipertensivo do chá verde derivam de um estudo de coorte, onde o consumo habitual de chá verde ou oolong (120ml/dia durante 1 ano) se associou com menor risco de desenvolvimento de hipertensão13.
Ensaios clínicos randomizados também foram conduzidos para responder a essa questão. Agudamente, o chá verde aumenta a pressão arterial. Um dos ingredientes do chá verde com efeito pressor agudo é a cafeína, entretanto, o aumento agudo sobre a pressão arterial é maior do que o aumento quando a mesma quantidade de cafeína é ingerida isoladamente. Não se conhece qual é o outro ingrediente do chá verde responsável pelo aumento da pressão arterial16. Os chás contêm quantidades significativas de cafeína, estima-se que uma xícara (175ml) de chá contenha 40-60mg, enquanto 1 xícara (175ml) de café contém 65-100mg. Apesar de haver uma grande variabilidade, geralmente existe uma quantidade de cafeína bem menor no chá verde do que no chá preto3.
Os estudos a curto prazo avaliando os efeitos do chá verde sobre a pressão arterial revelam resultados inconsistentes. Em um estudo randomizado com duração de 2 meses, o grupo de intervenção foi orientado a utilizar diariamente 1 pacote de extrato de chá verde/ dia, contendo 544mg de polifenóis (456mg de catequinas). Ao final dos 2 meses, não foram observadas reduções significativas nos níveis de pressão arterial no grupo de intervenção em comparação com o grupo controle17. Já Nantz e cols. (2009)18 realizaram um estudo randomizado, duplo-cego e placebo controlado envolvendo 111 adultos saudáveis. Nesse estudo, foram administradas cápsulas padronizadas e descafeinadas de Camellia sinensis 2 vezes por dia durante 3 semanas, sendo observada redução significativa da pressão arterial sistólica e da diastólica.
Os polifenóis induzem vasodilatação dependente do óxido nítrico (NO) em artérias isoladas, com relaxamento do músculo liso vascular, e consequente efeito anti-hipertensivo19. Apesar do chá verde ser rico em polifenóis, também possui cafeína, o que pode interferir no efeito deste chá sobre a pressão arterial.
Chá verde e proteção cardiovascular
Dentre os diferentes tipos de infusões, o chá verde destaca-se uma vez que diversos estudos demonstram que seu consumo regular reduz os níveis de colesterol plasmático, e a agregação plaquetária e protege a LDL da oxidação. Essas ações do chá verde sobre o sistema cardiovascular ocorrem devido aos compostos bioativos presentes, as catequinas, que apresentam um amplo espectro de atividades funcionais, principalmente, potente ação antioxidante18.
A doença arterial coronária (DAC) e o acidente vascular cerebral (AVC), decorrentes da aterosclerose, destacam-se como principais causas de enfermidades cardiovasculares sendo responsável por aproximadamente 50% de óbitos em países ocidentais20.
A aterosclerose é uma doença multifatorial, lenta e progressiva, resultante de uma série de respostas celulares e moleculares altamente específicas. O acúmulo da LDL e sua posterior oxidação na matriz subendotelial da camada íntima das artérias é o evento inicial da aterosclerose, assim como células inflamatórias e elementos fibrosos que se depositam na parede das artérias, são responsáveis pela formação de placas ou estrias gordurosas, que, geralmente, ocasionam obstrução vascular20.
Diversos mecanismos têm sido propostos para elucidar a atuação das catequinas sobre a absorção do colesterol. Acredita-se que esses compostos tenham a capacidade de reduzir a concentração plasmática desse lipídio por torná-lo menos solúvel nas micelas. Outras pesquisas propõem, ainda, que a incorporação das catequinas nas bicamadas de fosfolipídios seria responsável pela diminuição da sua fluidez, afetando a estrutura, com consequente redução da captação do colesterol pelos enterócitos21.
Pesquisadores observaram uma redução significativa na concentração plasmática da LDL oxidada, após 4 semanas de administração de catequinas presentes no chá verde, permanecendo inalteradas as concentrações plasmática de LDL, triglicerídeos e da lipoproteína de baixa densidade (HDL)21. Em outro estudo, houve redução significativa no colesterol total e LDL plasmáticos: após a suplementação com extrato seco de chá verde por três semanas nos homens18. Os mesmos autores usaram uma análise padrão de malonaldeído para avaliar a peroxidação lipídica sérica, e encontraram uma redução de 11,9% na concentração sérica deste marcador após o mesmo período de suplementação dos mecanismos sugeridos para ação do chá verde sobre os lipídios séricos e sua provável capacidade de inibir a absorção intestinal de lipídios dietéticos.
Uma pesquisa com uma população composta por 8.476 homens e 5.440 mulheres com idade entre 40 e 69 anos no Japão com um consumo diário de 10 xícaras de chá verde e infusão por um período de 14 semanas consecutivas, observou-se uma redução de 28% no colesterol sérico22.
Em coelhos, a administração de extrato de catequinas reduziu a síntese de colesterol hepático, aumentou os receptores de HDL, tendo como consequência a redução dos níveis de colesterol plasmático23.
Quando os níveis de LDL circulante estiverem aumentados, este acúmulo será maior. As LDL oxidadas tendem a se acumular no epitélio vascular causando a adesão de monócitos na parede endotelial, facilitada por substâncias como a molécula de adesão de células vasculares (VCAM-1), a molécula de adesão intracelular (ICAM -1) e a molécula de adesão de leucócitos ao endotélio (E-selectina). Posteriormente, ocorre a infiltração e diferenciação a macrófagos, que captam as partículas de LDL oxidada por meio de um grupo de receptores scavenger (SR-A e CD36), com consequente formação das foam cells ou células espumosas. O acúmulo dessas células na camada íntima arterial gera a estria gordurosa20.
Em humanos, as estrias gordurosas são observadas já nas primeiras décadas de vida, porém não apresentam importância clínica, mas são precursoras para a formação das lesões ateroscleróticas mais avançadas, conhecidas como placas fibrosas. Embora as lesões ateroscleróticas avançadas possam se tornar suficientemente grandes até o ponto de bloquear o fluxo sanguíneo, a complicação clínica mais significante é o rompimento da capafibrosa que recobre a lesão, com consequente formação de trombos ou coágulos, que poderão obstruir vasos de menor calibre resultando em infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral ou acometimento dos membros inferiores20.
Chá verde e função endotelial
Apesar de o endotélio vascular saudável ser somente uma monocamada, relativamente simples, de células que, durante anos, foi considerada não mais do que uma barreira semipermeável que revestia a vasculatura, atualmente está bem claro o seu papel essencial para as funções de manutenção da homeostase vascular24.
O endotélio é exposto a uma variedade de sinais transmitidos pelo sangue e por agentes intravasculares que promovem o estresse, respondendo a estes estímulos através da secreção ou modificação de uma série de fatores que regulam o tônus vascular, a tromborresistência e a adesão celular24. Ele traduz, por exemplo, o estímulo do aumento do shear stress em uma resposta de vaso-relaxamento, facilitando um dos mais básicos mecanismos homeostáticos cardiovasculares de dilatação fluxo-mediada24.
A primeira abordagem na descoberta e na avaliação da função endotelial estava focada na análise da resposta endotélio-dependente aos agentes farmacológicos como a acetilcolina25. A importância do endotélio veio primeiramente a partir do reconhecimento dos seus efeitos sobre o tônus vascular22. Diversas moléculas vasoativas que relaxam e constringem os vasos são produzidas e liberadas pelo endotélio em resposta a uma modificação nos mediadores vasoativos como a trombina e a bradicinina26. Esta vasomotricidade exerce um papel direto no suprimento de oxigênio e demandas metabólicas aos tecidos, através da regulação do tônus e do diâmetro do vaso26. Ela também está envolvida na remodelação da estrutura vascular e na perfusão do órgão em longo-prazo26.
Os polifenóis induzem a vasodilatação dependente do NO em artérias isoladas. A ativação da óxido nítrico sintase endotelial (eNOS) ocorre devido a dois mecanismos distintos: 1) aumento na concentração intracelular de cálcio e 2) fosforilação da eNOS pela via PI3-Kinase/ Akt. Além disto, os flavonoides causam relaxamento de artérias isoladas mediado pelo fator hiperpolarizante derivado do endotélio (EDHF), devido à formação localizada e controlada de ânions superóxido levando à ativação da via PI3-kinase/Akt. Os flavonoides também aumentam a liberação endotelial de prostaciclina e inibem a síntese e os efeitos da endotelina-1. Todos esses mecanismos devem contribuir para explicar os efeitos vasodilatadores, vasoprotetores e anti-hipertensivos dos polifenóis19.
Já foi demonstrado que, duas horas após a ingestão de 300mg de epigalocatequina galato, houve melhora significativa na dilatação fluxo-mediada da artéria braquial de pacientes com doença coronariana27.
Alguns estudos publicados nos últimos anos revelam que a suplementação de chá verde está associada a uma melhora na função endotelial. O chá verde parece restaurar a função endotelial por promover o balanço entre os vasodilatadores como NO e os vasoconstritores como os tromboxanos e os isoprostanos, melhorando a resistência vascular acarretando na diminuição dos níveis pressóricos28.
Os efeitos agudos do chá verde sobre a função endotelial também foram testados por pesquisadores em 14 indivíduos saudáveis, sendo observado um aumento na dilatação mediada pelo fluxo29. Em outro estudo, também, foi observado melhora na dilatação mediada pelo fluxo em mulheres saudáveis após suplementação com extrato de chá verde por 5 semanas9.
CONCLUSÕES
As pesquisas com o chá verde revelam de forma crescente seu efeito benéfico em alguns estados patológicos. Ele possui uma grande variedade de mecanismos com ações cardioprotetoras. Seu consumo regular parece ter impactos benéficos para a saúde humana, incluindo ação antioxidante, melhora da função endotelial e redução do risco de doença cardiovascular.
Com isso, é importante a elaboração de mais estudos para investigar e aprofundar os conhecimentos sobre o chá verde.
REFERÊNCIAS
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O chá verde é produzido a partir das folhas, com baixo grau de fermentação, da planta Camellia sinensis. Nos últimos anos, este chá ganhou considerável atenção, pois seu consumo tem sido associado à redução da morbidade e da mortalidade cardiovascular2-4. No Ohsaki study, 40.530 japoneses foram acompanhados prospectivamente durante 11 anos, os indivíduos que consumiam 5 ou mais xícaras de chá verde/ dia em comparação com os que consumiam menos de 1 xícara/dia apresentaram um risco 16% menor de mortalidade por todas as causas e 26% menor de mortalidade cardiovascular5.
Os benefícios do chá verde são atribuídos à presença de flavonoides, em sua composição. Os flavonoides são compostos polifenólicos que apresentam, dentre outras propriedades, efeito antioxidante e anti-inflamatório4, podendo ser encontrados em frutas e verduras. O chá verde é uma excelente fonte de flavonoides, principalmente as catequinas2. No chá verde, as catequinas compreendem 80-90% do total de flavonóides, com a epigalocatequina galato (EGCG), sendo a mais abundante (48-55%), seguida por outras catequinas: epigalocatequina (9-12%), epicatequina galato (9-12%), e epicatequina (5-7%). Uma xícara de chá verde contém, aproximadamente, 90mcg de EGCG. Além das catequinas, a composição química do chá verde também inclui proteínas (15%), aminoácidos (4%), fibras (26%), outros carboidratos (7%), lipídios (7%), pigmentos (2%) e minerais (5%)4.
Diante do exposto, torna-se necessário o melhor conhecimento dos possíveis benefícios do chá verde, considerando seus efeitos antioxidantes e suas ações protetoras. Portanto, o presente artigo tem como objetivo descrever os efeitos cardioprotetores do chá verde abordados na literatura.
Chá verde como um alimento funcional
Alimentos funcionais são aqueles que, além das qualidades nutricionais, contêm substâncias que ajudam na diminuição dos riscos de algumas doenças crônicas, por isso são considerados promotores de saúde, devido a seus componentes ativos, podendo influenciar na qualidade e expectativa de vida das pessoas6.
Diversos estudos epidemiológicos sugerem que os potenciais benefícios desses alimentos seriam na redução do risco de desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis, tais como o câncer, doenças cardiovasculares, distúrbios metabólicos, doenças neurodegenerativas e enfermidades inflamatórias. Na área da pesquisa com alimentos funcionais, a planta Camellia sinensis tem sido amplamente investigada devido ao seu conteúdo específico de "avonoides, que lhe confere inúmeras propriedades terapêuticas7.
Com isso, de acordo com os compostos bioativos do chá verde e a sua potencial capacidade de promover benefícios à saúde, diversos estudos demonstram que o mesmo deve ser considerado um alimento funcional.
Propriedades antioxidantes dos flavonóides do chá verde
Alguns estudos demonstraram que o consumo de chá verde é capaz de reduzir a peroxidação lipídica, a geração de radicais livres, a oxidação da lipoproteína de baixa densidade (LDL) e o desenvolvimento do estresse oxidativo4,7-10.
Basu e cols. (2010)10 avaliaram indivíduos obesos com síndrome metabólica e observaram que o consumo de chá verde (4 xícaras/ dia) durante 8 semanas foi capaz de reduzir significativamente as concentrações séricas de malondialdeído (MDA) e de hidroxinonenals (HNE) em comparação com controles. Reduções significativas nos níveis séricos do MDA e do 4-HNE, além de redução do estresse oxidativo nos eritrócitos foram observadas após o consumo de 1 litro de chá verde durante 3 meses8. O consumo do extrato de chá verde por mulheres saudáveis durante 5 semanas se associou à redução significativa de 37,4% na concentração da LDL oxidada9.
Os polifenóis podem atuar como antioxidantes através de uma série de mecanismos potenciais: neutralizam espécies reativas do oxigênio (ROS); quelam metais de transição; poupam vitamina E e carotenoides na partícula de LDL, aumentando assim seu poder antioxidante; inibem enzimas "pró-oxidantes" e aumentam a atividade de enzimas antioxidantes, como a paraoxonase8,11.
As propriedades antioxidantes do chá verde podem reduzir a sensibilidade da LDL à oxidação, reduzindo o risco de doença aterosclerótica8,11. Em adição às ações diretas sobre o endotélio, os flavonoides do chá verde potencialmente reduzem o desenvolvimento de aterosclerose através das suas ações indiretas como substâncias antioxidantes12. Quando as partículas de LDL são oxidadas, elas podem causar injúrias às paredes das artérias, atraindo células espumosas e desencadeando outras respostas imunológicas, que conduzem à formação de placas de ateroma, fato que desencadeia o processo aterosclerótico12.
Existem outros nutrientes encontrados no chá verde com propriedades antioxidantes, além dos polifenóis, por exemplo: ácido ascórbico, tocoferóis, carotenoides e alguns minerais com ação antioxidante3.
Efeitos do chá verde sobre a pressão arterial
Os efeitos do consumo de chá verde sobre a pressão arterial ainda não são completamente conhecidos. Estudos observacionais que avaliaram a associação entre consumo de chá verde e pressão arterial produziram resultados conflitantes. No estudo de Yang e cols. (2004)13, o consumo de chá verde se associou a níveis mais baixos de pressão arterial, enquanto no estudo realizado por Wakabayashi e cols. (1998)14 não foi relatada nenhuma associação. Em uma meta- -análise de estudos incluindo chá verde e chá preto, o consumo de chá não se associou com redução da pressão arterial15. As evidências observacionais mais robustas de um possível efeito anti-hipertensivo do chá verde derivam de um estudo de coorte, onde o consumo habitual de chá verde ou oolong (120ml/dia durante 1 ano) se associou com menor risco de desenvolvimento de hipertensão13.
Ensaios clínicos randomizados também foram conduzidos para responder a essa questão. Agudamente, o chá verde aumenta a pressão arterial. Um dos ingredientes do chá verde com efeito pressor agudo é a cafeína, entretanto, o aumento agudo sobre a pressão arterial é maior do que o aumento quando a mesma quantidade de cafeína é ingerida isoladamente. Não se conhece qual é o outro ingrediente do chá verde responsável pelo aumento da pressão arterial16. Os chás contêm quantidades significativas de cafeína, estima-se que uma xícara (175ml) de chá contenha 40-60mg, enquanto 1 xícara (175ml) de café contém 65-100mg. Apesar de haver uma grande variabilidade, geralmente existe uma quantidade de cafeína bem menor no chá verde do que no chá preto3.
Os estudos a curto prazo avaliando os efeitos do chá verde sobre a pressão arterial revelam resultados inconsistentes. Em um estudo randomizado com duração de 2 meses, o grupo de intervenção foi orientado a utilizar diariamente 1 pacote de extrato de chá verde/ dia, contendo 544mg de polifenóis (456mg de catequinas). Ao final dos 2 meses, não foram observadas reduções significativas nos níveis de pressão arterial no grupo de intervenção em comparação com o grupo controle17. Já Nantz e cols. (2009)18 realizaram um estudo randomizado, duplo-cego e placebo controlado envolvendo 111 adultos saudáveis. Nesse estudo, foram administradas cápsulas padronizadas e descafeinadas de Camellia sinensis 2 vezes por dia durante 3 semanas, sendo observada redução significativa da pressão arterial sistólica e da diastólica.
Os polifenóis induzem vasodilatação dependente do óxido nítrico (NO) em artérias isoladas, com relaxamento do músculo liso vascular, e consequente efeito anti-hipertensivo19. Apesar do chá verde ser rico em polifenóis, também possui cafeína, o que pode interferir no efeito deste chá sobre a pressão arterial.
Chá verde e proteção cardiovascular
Dentre os diferentes tipos de infusões, o chá verde destaca-se uma vez que diversos estudos demonstram que seu consumo regular reduz os níveis de colesterol plasmático, e a agregação plaquetária e protege a LDL da oxidação. Essas ações do chá verde sobre o sistema cardiovascular ocorrem devido aos compostos bioativos presentes, as catequinas, que apresentam um amplo espectro de atividades funcionais, principalmente, potente ação antioxidante18.
A doença arterial coronária (DAC) e o acidente vascular cerebral (AVC), decorrentes da aterosclerose, destacam-se como principais causas de enfermidades cardiovasculares sendo responsável por aproximadamente 50% de óbitos em países ocidentais20.
A aterosclerose é uma doença multifatorial, lenta e progressiva, resultante de uma série de respostas celulares e moleculares altamente específicas. O acúmulo da LDL e sua posterior oxidação na matriz subendotelial da camada íntima das artérias é o evento inicial da aterosclerose, assim como células inflamatórias e elementos fibrosos que se depositam na parede das artérias, são responsáveis pela formação de placas ou estrias gordurosas, que, geralmente, ocasionam obstrução vascular20.
Diversos mecanismos têm sido propostos para elucidar a atuação das catequinas sobre a absorção do colesterol. Acredita-se que esses compostos tenham a capacidade de reduzir a concentração plasmática desse lipídio por torná-lo menos solúvel nas micelas. Outras pesquisas propõem, ainda, que a incorporação das catequinas nas bicamadas de fosfolipídios seria responsável pela diminuição da sua fluidez, afetando a estrutura, com consequente redução da captação do colesterol pelos enterócitos21.
Pesquisadores observaram uma redução significativa na concentração plasmática da LDL oxidada, após 4 semanas de administração de catequinas presentes no chá verde, permanecendo inalteradas as concentrações plasmática de LDL, triglicerídeos e da lipoproteína de baixa densidade (HDL)21. Em outro estudo, houve redução significativa no colesterol total e LDL plasmáticos: após a suplementação com extrato seco de chá verde por três semanas nos homens18. Os mesmos autores usaram uma análise padrão de malonaldeído para avaliar a peroxidação lipídica sérica, e encontraram uma redução de 11,9% na concentração sérica deste marcador após o mesmo período de suplementação dos mecanismos sugeridos para ação do chá verde sobre os lipídios séricos e sua provável capacidade de inibir a absorção intestinal de lipídios dietéticos.
Uma pesquisa com uma população composta por 8.476 homens e 5.440 mulheres com idade entre 40 e 69 anos no Japão com um consumo diário de 10 xícaras de chá verde e infusão por um período de 14 semanas consecutivas, observou-se uma redução de 28% no colesterol sérico22.
Em coelhos, a administração de extrato de catequinas reduziu a síntese de colesterol hepático, aumentou os receptores de HDL, tendo como consequência a redução dos níveis de colesterol plasmático23.
Quando os níveis de LDL circulante estiverem aumentados, este acúmulo será maior. As LDL oxidadas tendem a se acumular no epitélio vascular causando a adesão de monócitos na parede endotelial, facilitada por substâncias como a molécula de adesão de células vasculares (VCAM-1), a molécula de adesão intracelular (ICAM -1) e a molécula de adesão de leucócitos ao endotélio (E-selectina). Posteriormente, ocorre a infiltração e diferenciação a macrófagos, que captam as partículas de LDL oxidada por meio de um grupo de receptores scavenger (SR-A e CD36), com consequente formação das foam cells ou células espumosas. O acúmulo dessas células na camada íntima arterial gera a estria gordurosa20.
Em humanos, as estrias gordurosas são observadas já nas primeiras décadas de vida, porém não apresentam importância clínica, mas são precursoras para a formação das lesões ateroscleróticas mais avançadas, conhecidas como placas fibrosas. Embora as lesões ateroscleróticas avançadas possam se tornar suficientemente grandes até o ponto de bloquear o fluxo sanguíneo, a complicação clínica mais significante é o rompimento da capafibrosa que recobre a lesão, com consequente formação de trombos ou coágulos, que poderão obstruir vasos de menor calibre resultando em infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral ou acometimento dos membros inferiores20.
Chá verde e função endotelial
Apesar de o endotélio vascular saudável ser somente uma monocamada, relativamente simples, de células que, durante anos, foi considerada não mais do que uma barreira semipermeável que revestia a vasculatura, atualmente está bem claro o seu papel essencial para as funções de manutenção da homeostase vascular24.
O endotélio é exposto a uma variedade de sinais transmitidos pelo sangue e por agentes intravasculares que promovem o estresse, respondendo a estes estímulos através da secreção ou modificação de uma série de fatores que regulam o tônus vascular, a tromborresistência e a adesão celular24. Ele traduz, por exemplo, o estímulo do aumento do shear stress em uma resposta de vaso-relaxamento, facilitando um dos mais básicos mecanismos homeostáticos cardiovasculares de dilatação fluxo-mediada24.
A primeira abordagem na descoberta e na avaliação da função endotelial estava focada na análise da resposta endotélio-dependente aos agentes farmacológicos como a acetilcolina25. A importância do endotélio veio primeiramente a partir do reconhecimento dos seus efeitos sobre o tônus vascular22. Diversas moléculas vasoativas que relaxam e constringem os vasos são produzidas e liberadas pelo endotélio em resposta a uma modificação nos mediadores vasoativos como a trombina e a bradicinina26. Esta vasomotricidade exerce um papel direto no suprimento de oxigênio e demandas metabólicas aos tecidos, através da regulação do tônus e do diâmetro do vaso26. Ela também está envolvida na remodelação da estrutura vascular e na perfusão do órgão em longo-prazo26.
Os polifenóis induzem a vasodilatação dependente do NO em artérias isoladas. A ativação da óxido nítrico sintase endotelial (eNOS) ocorre devido a dois mecanismos distintos: 1) aumento na concentração intracelular de cálcio e 2) fosforilação da eNOS pela via PI3-Kinase/ Akt. Além disto, os flavonoides causam relaxamento de artérias isoladas mediado pelo fator hiperpolarizante derivado do endotélio (EDHF), devido à formação localizada e controlada de ânions superóxido levando à ativação da via PI3-kinase/Akt. Os flavonoides também aumentam a liberação endotelial de prostaciclina e inibem a síntese e os efeitos da endotelina-1. Todos esses mecanismos devem contribuir para explicar os efeitos vasodilatadores, vasoprotetores e anti-hipertensivos dos polifenóis19.
Já foi demonstrado que, duas horas após a ingestão de 300mg de epigalocatequina galato, houve melhora significativa na dilatação fluxo-mediada da artéria braquial de pacientes com doença coronariana27.
Alguns estudos publicados nos últimos anos revelam que a suplementação de chá verde está associada a uma melhora na função endotelial. O chá verde parece restaurar a função endotelial por promover o balanço entre os vasodilatadores como NO e os vasoconstritores como os tromboxanos e os isoprostanos, melhorando a resistência vascular acarretando na diminuição dos níveis pressóricos28.
Os efeitos agudos do chá verde sobre a função endotelial também foram testados por pesquisadores em 14 indivíduos saudáveis, sendo observado um aumento na dilatação mediada pelo fluxo29. Em outro estudo, também, foi observado melhora na dilatação mediada pelo fluxo em mulheres saudáveis após suplementação com extrato de chá verde por 5 semanas9.
CONCLUSÕES
As pesquisas com o chá verde revelam de forma crescente seu efeito benéfico em alguns estados patológicos. Ele possui uma grande variedade de mecanismos com ações cardioprotetoras. Seu consumo regular parece ter impactos benéficos para a saúde humana, incluindo ação antioxidante, melhora da função endotelial e redução do risco de doença cardiovascular.
Com isso, é importante a elaboração de mais estudos para investigar e aprofundar os conhecimentos sobre o chá verde.
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